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Intervir com pacientes desafiantes

28/9/2014

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Ao longo do meu percurso profissional, tenho tido a oportunidade, e eu diria que o privilégio, de trabalhar com pacientes com dificuldades mais estruturais, em que o seu funcionamento intra e interpessoal, mais rigidificado em padrões desadataptivos, os coloca recorrentemente em ciclos interpessoais improdutivos e insatisfatórios.

Estes pacientes tendem a ser grandes desafios para nós terapeutas, já que muitas vezes despertam em nós as mesmas reacções adversas que despertam nos outros lá fora, e das quais se queixam, sem se aperceberem do seu contributo para elas.

Estes pacientes precisam nalguma altura do processo terapêutico perceber como funcionam e como esse funcionamento lhes trás problemas, mas o processo de os ajudar a percebê-lo precisa ser muito cauteloso, precisamos dar-lhes tempo e espaço, e precisamos pelo caminho gerir as  nossas próprias frustrações e as nossas próprias reacções mais adversas aos comportamentos que eles nos dirigem.

O trabalho terapêutico com estes pacientes é de facto muito exigente, mas pode também ser muito gratificante, se conseguirmos usar as reacções contra-transferenciais que eles nos provocam em benefício do processo terapêutico e não contra ele.

 A exigência do trabalho com estes pacientes reside em vários factores:
  • Em primeiro lugar, precisamos estar sempre muito atentos a nós mesmos, às nossas reacções contra-transferenciais ao que eles colocam em nós e à forma como se relacionam connosco. É importante termos o cuidado de nos questionarmos “onde e porque é que este paciente está a mexer comigo?” e percebermos as nossas potenciais contribuições para o problema.
  • Depois é importante também questionarmo-nos, ainda interiormente, “qual será a motivação mais profunda, ou a necessidade mais profunda deste paciente, por detrás desta forma mais agressiva, ou desligada, ou provocadora de se relacionar comigo?”. No fundo é lembrarmo-nos que o funcionamento dos nossos pacientes tem uma história, algures no seu crescimento eles precisaram desenvolver determinadas estratégias para se protegerem e lidarem com os contextos em que estavam inseridos, e estas estratégias generalizaram-se e rigidificaram-se. Nós terapeutas precisamos ter a disponibilidade, e às vezes o sangue frio, de antes de reagirmos ao paciente no que poderia ser um acting out da nossa parte, semelhante às reacções que eles estão habituados a receber lá fora e que só os fazem confirmar ainda mais as expectativas que já têm que vão ser rejeitados, criticados ou culpabilizados, respirarmos fundo e procurarmos perceber “o que é que ele precisa no fundo receber de mim, mas que não sabe ou não consegue pedir, e actua desta forma que sem querer ainda me afasta mais de lho conseguir dar?”.
  • E por último, e igualmente difícil, é importante podermos, de uma forma muito cuidadosa, evitando ao máximo ser crítico ou culpabilizar o paciente, devolver como nos sentimos e explorar o que é que está a acontecer ali ou, com pacientes que precisem mais da nossa ajuda a desvendar o seu próprio interior, partilhar, sempre como hipóteses e nunca como certezas, as reflexões que nós próprios fizemos do que nos parece ter contribuído, ou estar a contribuir, para o problema.

Adicionalmente, no trabalho com estes pacientes é essencial fazermos supervisão com terapeutas mais experientes e que tenham a capacidade de nos conter e nos acompanhar nas nossas próprias dificuldades e frustrações, para que a experiência seja o menos dolorosa e o mais gratificante possível.


Estes pacientes precisam imenso de nós e do nosso investimento, que possamos não desistir deles e sim melhorarmos a nossa capacidade de os acompanhar.
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    Autora

    Joana Fojo Ferreira
    Psicóloga Clínica

    Joana Fojo Ferreira Formação e supervisão de Psicólogos
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