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A loucura da normalidade

26/11/2015

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Li recentemente “A loucura da normalidade” de Arno Gruen, que apresenta uma reflexão interessante sobre uma suposta “normalidade” que é na realidade bastante “louca”, e uma suposta “loucura” muitas vezes bem mais saudável que a suposta “normalidade”.

Deixo-vos algumas passagens:

“Fugimos, cada vez mais, do nosso deserto interior, do nosso vazio (…)
Enquanto a cisão ainda não se efetuou, reagimos ao que fazemos e ao que nos acontece com sensações de dor, desamparo, ou felicidade e curiosidade. Como fazem parte da nossa experiência de vida, essas reações são continuamente integradas na nossa psique e aí continuam a fazer o seu efeito. São elas que nos fornecem as energias criativas, uma vez que determinam a nossa recetividade em tudo que interfere connosco vindo de fora. Mas a criatividade diminui na medida em que menosprezamos tais sensações. Uma vez separados do nosso interior, reagimos apenas com ideias e conceitos obrigatórios e pré-fabricados. Daqui até à transformação em robot já não falta muito.
Se a dor, a preocupação e a impotência são negadas por serem consideradas fraquezas, (…) o interior é neutralizado e desligado da engrenagem da vida diária. E, assim, o mundo interior afunda-se cada vez mais no inconsciente. Mas ele continua a ser o motor, mesmo que incógnito, do nosso modo de agir, pensar e sentir.
Há, portanto, dois estados mentais diametralmente opostos: Onde o mundo interior é acessível, uma pessoa será capaz de reagir de uma forma criativa aos estímulos externos. Pode mesmo existir como mundo interior inconsciente, desde que seja recuperável. A vida interior é uma entidade muito flexível que tem uma grande capacidade de reação.
No tipo contrário é diferente: se o interior sensível estiver bloqueado, os contatos do indivíduo com o mundo exterior deixá-lo-ão inalterado. Ou melhor: nem existirá um verdadeiro contato com o exterior. A medida do isolamento interior daí decorrente está diretamente relacionada com o ódio de si próprio. Este é provocado pela participação ativa na sujeição ao mando de uma “realidade” que exige a negação de sentimentos autónomos.
…
O recalcamento do desespero e do desequilíbrio interior, ou seja, o afastamento do seu interior, caracteriza aquelas pessoas, das quais supomos estarem plenamente inseridas na realidade. Essa impressão é causada pelo facto da nossa ideia de “realidade” estar feita à medida desse tipo de personalidade, o que leva a que tal ideia seja aparentemente confirmada as vezes que for preciso. Por isso, o poder de decidir sobre os nossos destinos costuma ser entregue justamente a esse tipo de gente, muito embora não esteja à altura de tal responsabilidade. Mas assim acontece também por essas pessoas encarnarem as nossas próprias fantasias de realismo e força.
O tema deste livro é, por isso, a índole traiçoeira de uma “saúde” que oculta a falta de um verdadeiro Eu e que, ao mesmo tempo, serve de meio para fugir ao caos interior provocado por esse defeito. A separação do interior impossibilita o desenvolvimento de um Eu autêntico.
…
São estas as pessoas que quero apresentar como as realmente loucas entre nós.
Põem-nos todos em perigo, porque são incapazes de encarar de frente o caos, a raiva e o vazio que os preenchem.”
 

A ideia que ressalta e que é preocupante, é que socialmente estamos a criar e favorecer robots, pessoas com funcionamento psicopático, desligadas da sua experiência interior, em negação do seu mundo interior, o que por sua vez favorece que se tornem insensíveis quer a si próprias quer aos outros.

Mais preocupante ainda é de facto este funcionamento desconectado das emoções e vivências internas estar a servir de modelo para a saúde mental – quantas vezes o objetivo verbalizado de quem nos procura é “ajude-me a deixar de sentir, isto é insuportável” ou o objetivo dos familiares e amigos é “ele/ela é demasiado sensível, cure-o/a desta sensibilidade, é intolerável”.

Enquanto rotularmos vulnerabilidade, tristeza, medo como fraquezas, e uma postura estoica e inabalável como forças, estamos condenados, vamo-nos destruindo aos poucos, perdendo o potencial humano e criativo para ideais mecanicistas e económicos que funcionam para números e robots mas definham as pessoas.

Assustador que seja permitirmo-nos sentir a tristeza, o medo, a dor,…, só nesta reconexão recuperamos o nosso potencial criativo e humano e podemos aspirar a uma verdadeira saúde mental, um verdadeiro bem-estar, e um verdadeiro sentido de humanidade.
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    Joana Fojo Ferreira
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